Susceptibilidade à degradação/desertificação no semiárido brasileiro: tendências atuais e cenários decorrentes das mudanças climáticas e do uso da terra (Rita Marcia da Silva Pinto Vieira)
Cerca de 57% da superfície da região Nordeste é caracterizada por clima semiárido. A região tem sido submetida ao uso intensivo da terra nos últimos séculos, levando a uma severa degradação dos seus recursos naturais e à desertificação. Assim sendo, o objetivo do presente estudo é desenvolver uma metodologia capaz de identificar áreas com maior potencial a desenvolver o processo de degradação/desertificação. Um dos métodos mais utilizados para a análise de desertificação é a metodologia do MEDALUS, baseada no Índice de Área Ambientalmente Sensível (ESAI), que tem sido aplicado e validado, em várias escalas e resoluções, em vários países da Europa. No Brasil, vários trabalhos foram desenvolvidos para determinar indicadores de desertificação, como, por exemplo, o de Crepani et al. (1996), que desenvolveram uma metodologia baseada no conceito dos princípios da ecodinâmica e na relação morfogênese/pedogênese para identificar áreas de vulnerabilidade à perda de solo. No presente estudo utilizam-se essas duas metodologias para entender melhor o processo de desertificação na região do semiárido do Brasil. O conjunto de fatores utilizados é composto por 11 indicadores de desertificação, disponibilizados para toda a área de estudo: pedologia, geologia, geomorfologia, declividade, dados de uso e cobertura da terra, índice de aridez, densidade de pecuária, densidade da população rural, de focos de queimadas, índice de desenvolvimento humano, unidades de conservação. Os resultados indicam que 94% do semiárido brasileiro está sob moderada a alta susceptibilidade à desertificação. As áreas identificadas com alta susceptibilidade à degradação/desertificação do solo aumentaram aproximadamente 4,6% (83,4 km2) entre 2000 e 2010. As regiões de clima úmido e subúmido-úmido, que do ponto de vista climático são de baixa susceptibilidade, quando analisadas em conjunto com o manejo do solo se tornam áreas de alta susceptibilidade. Foram também gerados cenários, até o ano de 2040, visando avaliar como as mudanças climáticas e os usos da terra poderão afetar o grau de susceptibilidade da área de estudo. Para as mudanças do uso da terra foram avaliados dois cenários: pessimista, quando ocorre desmatamento quase total, restando apenas 3% de remanescente de vegetação; otimista, em cujo desmatamento também ocorre, mas de forma menos intensa, restando 16% de floresta. A diferença encontrada, considerando a classe de alta susceptibilidade, entre o cenário otimista e pessimista foi de apenas 6,374 km2 (3%). As áreas em que se observou aumento de susceptibilidade para o ano de 2040 foram nos Estados de Minas Gerais, Piauí, Rio Grande Norte e Sergipe. Também foi constatado o aumento de áreas com alta susceptibilidade à degradação/ desertificação em remanescentes de mata atlântica, o que pode estar ocorrendo devido ao uso intensivo dessas áreas para agricultura. No norte de Minas Gerais o aumento do índice de aridez e a densidade de população projetada podem ser os fatores que explicam o aumento da susceptibilidade. Nos Estados do Rio Grande do Norte e Sergipe, a pedologia é um indicador que pode estar contribuindo para aumento da susceptibilidade. A metodologia proposta mostrou-se útil para identificar as áreas que são susceptíveis à desertificação, uma vez que combina os principais indicadores de desertificação, na mesma escala e resolução, de forma integrada.
Disponível em: http://mtc-m21b.sid.inpe.br/col/sid.inpe.br/mtc-m21b/2015/03.09.04.35/doc/publicacao.pdf